ESCOLA ROCK AND ROLL

Professor gótico em ensaio na Universidade do Vale do Itajaí

Dreads no cabelo, tatuagens a perder de vista, e um visual totalmente diferente do que a sociedade espera de um professor de letras. Essa é a primeira impressão que se tira de Otavio Ferreira.

Na Univali para participar de um ensaio fotográfico para mostrar sua profissão e os preconceitos que sofre pelo visual - o professor falou entre outras coisas - dos desafios de ensinar na escola pública do século XXI, o estranhamento de colegas de profissão, e a omissão do governo no que se diz respeito ao ensino brasileiro.

Otavio falou entre outras coisas, da sua relação com alunos e do respeito que eles nutrem por ele
Calmo, ao contrário do que se imaginaria vendo o visual de dreads, tatuagens e gótico, ele respira fundo ao comentar sobre o 'status' da profissão de professor atualmente: "A profissão tá marginalizada. Você se passa por coitado. A maioria são tratados como vagabundos. Nós professores vemos que o sistema (governo) não quer melhorar. Faz de tudo para que continue assim. Em Alagoas, por exemplo, professor tá proibido de dar qualquer tipo de opinião ideológica", e logo completa: "Tá um caos a escola pública."

Entre cliques e poses para o trabalho de fotojornalismo dos alunos do 4º período do curso de Jornalismo da Univali, ele surpreende ao responder abertamente sobre a opinião errada de alguns alunos: "Tudo isso é reflexo da educação defasada dos pais. Eles reproduzem muita coisa em casa. Aluno meu chega falando que 'Nordestino é vagabundo', 'bandido bom é morto', ele traz de casa", e logo completa com uma frase surpreendente: "A base da sociedade é a educação. Educação tem que ser libertadora."

O professor, além de falar do descaso com o ensino público, disse que queria ser desing de moda

Otávio também aproveita para criticar a omissão dos professores do estado de Santa Catarina, que segundo ele são 'omissos', ao comentar das últimas greves: "Muitas divergências dos professores. Uma mostra clara disso foi a greve nossa. Só 30% dos professores do estado entraram em grave. Salário reduzido em R$ 700", e completou:  "A classe dos professores em Santa Catarina, especialmente, é muito desunida. Se unisse, poderia mudar muita coisa".

Em certo momento do ensaio, o professor de letras fica em dúvida, exita, mas continua e faz a declaração mais forte da entrevista: "Existem inúmeros casos de diretores que coagem professores, agressões verbais, ameaças. Professor se sente sem direito. A outra é a questão do individualismo."

Silêncio no local de ensaio. A declaração por um momento causa incômodo em todos. Ele continua: "A escola tá sucateada, o pessoal tá tendo aula em condições ruins. Escolas onde alunos tem que ver aula de guarda-chuva, casos de alunos agredindo professores com faca."

Professor de Letras, ele reclamou que as verbas são enviadas pelo governo federal, mas quando chega nas prefeituras, simplesmente some
O professor, porém, fala que tem liberdade para, segundo ele, desmistificar algumas mentiras contadas por livros de história: "Liberdade de poder esclarecer". Tenho a liberdade de desmentir livros errados da história. Conteúdos totalmente fora do que aconteceu. Aqui em Santa Catarina, ainda, temos essa liberdade de explicar e desmentir isso."

Natural de Santo André-SP,  Otavio Ferreira Anisio Junior, 32 anos, finaliza o ensaio com a seguinte frase: "Meus heróis morreram lutando contra quem virava estátua".

Apesar da imagem agressiva, ele diz que sua relação com os alunos é a mais amena possível

Crítico ferrenho do governo Temer, ele reclama dos pais dos alunos, que ensinam coisas absurdas a eles

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